A FESTA DAS CABANAS - SUKKOT
Este é um tempo especial a cada ano, pois é tempo de celebrar o festival das cabanas (a festa dos tabernáculos). Esta é uma festa maravilhosa e um tempo de buscar e viver santidade e santificação para todos os judeus, pois vão estar abrigados dentro das sukkot( cabanas).
Além de estarmos entados na cabana e desfrutando a santidade desse espaço, é também importante lembrar a mensagem e as lições que estão por trás do simbolismo de estar na cabana.
O que a sukkah representa?
A sukkah representa o fato de que após sairmos do Egito cerca de 3320 anos atrás, levamos 40 anos no deserto.
Durante aquele tempo, nós fomos protegidos por aquilo que os nossos sábios chamam de “As nuvens da glória”, em hebraico: “Ananei Hakavod”. No Livro de Shermot (Exodus) somos ensinados que a nuvem acompanhava o nosso povo durante o dia e uma coluna de fogo pela noite. De acordo com o Talmud (A Interpretação da Lei), não havia apenas uma nuvem, mas eles estavam cercados de todos os lados por nuvens, e de acordo com um dos ensinamentos do Talmud, havia cerca de sete diferentes tipos de nuvens que os cercavam e protegiam: uma ao lado direito do povo, uma ao lado esquerdo, uma a frente, uma atrás, uma acima, uma sob seus pés, e mais uma que se movia a frente, mostrando o caminho por onde deveriam seguir. A nuvem sob os pés existia devido ao fato do piso ser duro, íngreme e irregular, inclusive com pedras, e dessa forma a nuvem tornava aquele caminho macio, literalmente eles caminhavam sobre uma nuvem, tornando o caminhar mais fácil e por isso os seus sapatos não se gastaram, visto que não havia atrito com o chão.
Lembramos desses milagres pois foi no deserto que os Israelitas foram especialmente bem cuidados. Não é fácil explicar como 3 milhões de pessoas foram alimentadas diariamente num deserto árido e extremamente quente. Dessa forma, grandes milagres tinham de acontecer. O Maná caia do céu, nascentes de água os acompanhavam por onde quer que fossem e eles ainda tinham as nuvens de glória. Essas nuvens de glória, preliminarmente os protegiam dos elementos das natureza; o Maná os provia de comida e nutrientes, assim como a água lhes aliviava a sede. Todas as suas várias necessidades foram supridas no deserto, e é disso que nos lembramos na sukkah. Alguns comentaristas afirmam que esses milagres foram muito maiores do que quaisquer outros em nossa história, porque outros milagres, embora grandes e importantes, como por exemplo a abertura do mar vermelho foram para solucionar um problema no momento, mas o viver sustentado no deserto aconteceu dia após dia durante 40 anos. E isso faz dele um milagre maior e mais importante.
O que é especial acerca das nuvens?
O mais interessante nesta celebração é que ela foca principalmente o milagre das nuvens de glória e não as nascentes de água, ou o Maná que caia do céu. Qual é a verdadeira mensagem por trás das nuvens de glória? De acordo com o Talmud quando você está sentado dentro da cabana, você está sobre e sob as nuvens de glória, tal qual os nossos antepassados estiveram no deserto.
Um de nossos comentaristas, Rav Mecklenberg, no seu livro, Haketav V’hakabbalah, acentua que havia leis acerca do teto da Sukkah, mas não havia leis acerca do piso dela, isso porque o piso estava abaixo de uma das nuvens de glória. Ele também aponta no entanto, que algumas dessas leis podiam ser aplicadas ao piso. Um dos requisitos da cobertura da cabana é que ela deveria prover mais sombra do que deixar passar a luz do sol. A espessura permitia que a chuva entrasse, mas não a luz do sol e prover sombra.
Como se pode medir sombra e sol?
A Lei Judaica halachah diz que tal pode ser medido pela sombra que está no chão da cabana, mesmo que se tenha mais galhos do que espaço no telhado, os raios solares produzem no chão mais sol do que sombra. Neste caso a sukkah é invalida. Então existem leis que se aplicam para o chão- A quantidade permissível de sombra e luz solar.
Então porque o milagre das nuvens de glória são o foco maior e não o Maná e a fonte de água?
O Sukkot é o único festival que não se refere a uma data ou evento especifico. Ele vai buscar fatos que aconteceram por 40 ano no deserto; como por exemplo o Pesach (a páscoa) lembra um acontecimento que teve lugar no dia 15 de Nissan [ +/- Abril] é o dia que celebramos a Páscoa. Cada uma de nossas festas está ligada a um acontecimento histórico especifico e por causa disto está conectado a um dia. Obviamente é importante ter em mente que no Judaismo as festas são mais profundas do que a história. A história é valiosa em termos dos principios morais eternos que nos são ensinados. Não lembramos apenas do evento histórico da saída do Egito, nós extraimos os princípios morais e a noção da importância do que é liberdade, dos grandes milagres de Deus, do fato que Deus interviu na historia e na sua preocupação acerca das necessidades do ser humano.
Questionando a data do Sukkot
O Sukkot, é uma festa que não está ligada a uma data específica. Pode ser realizada a qualquer altura do ano, então por que celebramos agora? Nós acabamos de sair do Rosh Ha Shana e do Yom Kippur ( o dia do perdão) e do mês hebraico de Tishrei[Agosto/ Setembro] que é cheio de dias santos.
Porque Deus escolheu colocar o Sukkot agora quando Ele podia ter feito isto para alguns meses depois?
Especialmente entreo dia de hoje e a Páscoa existem 6 meses sem festas da Torah.Temos festas rabinicas como Chanukah e Purim mas não temos nenhuma festa da Torah.
Vilna Gaon, um dos nossos maiores rabinos dos anos 1700 disse que o Sukkot podia ter sido em uma outra altura do ano, porque o sukkah existe para nos lembrar da grande jornada pelo deserto depois de deixar o Egito .
Esta festa das cabbanas poderia ter sido logo depois da Páscoa porque a Páscoa marca a saida do Egito no dia 15 de Nissan, nos quais os filhos de Israel foram para o deserto. As nuvens de glória primeiro apareceram quando o povo entrou no deserto. E diz Vilna Gaon que a festa dos tabernaculos deveria ser logo apos a celebração da Páscoa por causa do momento histórico. Embora as nuvens de glória acompanhassem o povo por 40 anos elas começaram logo apos a saida do Egito. Então porque este festival é agora e não apos a Páscoa?
*nota do tradudor: { Em muitos comentários não rabinicos ou judaicos lê-se que a Sukkot era uma festa primordialmente agrícola, pois estaria ligada ao fato da colheita de grãos, cerais, frutas, etc; mas na verdade isso constitui um erro de interpretação ou no minimo uma interpretação aprioristica e irrelevante do real motivo do Sukkot, pois no deserto o povo nunca soube o que foi plantar ou colher}
Vilna Gaon responde a pergunda dizendo que é verdade que as nuvens de glória começaram a acompanhar o povo quando deixaram o Egito. Portanto em algum lugar, ou num dado momento eles perderam as nuvens de glória – quando teria isso ocorrido? Sete semanas depois que deixaram o Egito eles receberam no Monte Sinai a Torah no dia 6 de Sivan. Quarenta dias depois eles fizeram o bezerro de ouro e o adoraram. Moisés desceu a montanha no dia 17 de Tamuz, viu o povo adorando o bezerro de ouro e partiu as tábuas da lei assim como declarou que o povo não era digno de receber a Torah.
No dia seguinte ele volta ao monte e suplica o perdão de Deus para o povo. Vilna Gaon afirma que no momento que eles adoraram o bezerro de ouro eles perderam as nuvens de glória, porque essas nuvens não protegiam apenas dos elementos mas proviam uma barreira de conforto contra todo o tipo de dificuldade, porque as elas, representavam a divina presença de Deus. Dessa forma quando o povo estava próximo de Deus ao deixar o Egito as nuvens estavam presentes. Quando pecaram adorando o bezerro de ouro a glória se foi pois eles tinham rejeitado Deus ao adorarem aquele simbolo dos deuses do Egito
Moisés subiu o monte e ficou por 80 dias, dois periodos de 40 dias e suplicou o perdão de Deus para o povo. Depois dos 80 dias ele volta trazendo a mensagem de perdão e o segundo conjunto das tábuas da lei. Ele voltou no 10º dia de Tishrei, no qual celebramos o Yom Kippur, o dia do perdão, porque neste dia Deus perdoou o povo do pecado do bezerro de ouro.
Logo após isso eles começam o processo de levantar fundos e juntar materiais necessários para a construção do tabernáculo do deserto que tambem implicava um tipo de penitência por causa do pecado do bezerro de ouro. Eles juntaram, selecionaram e começaram a construção do tabernáculo poucos dias depois do dia do perdão. E esse foi o dia em que as nuvens voltaram. Começam a contrução no dia 15 de Tishrei que é o primeiro dia do Sukkot. Assim afirma Vilna Gaon que a razão de celebrarmos Sukkot é porque nos lembra quando as nuvens de glória voltaram o que aconteceu no 15º de Tishrei, 5 dias depois do Yom Kippur. A festa das cabanas é portanto o aniversário do dia em que as nuvens de gl;oria voltaram para o povo
Envolvidos pela presença de Deus.
As nuvens de glória não existiam somente para atender necessidades fisicas, elas representavam a presença de Deus no meio do povo e ainda que Deus os acompanhava e eles estavam vivendo próximos Dele e da Sua presença. Elas ainda representam o fato que Deus nos deu a Torah. No livro de Deuteronomio 32.10 somos ditos: Achou-o na terra do deserto e no ermo solitário cheio de uivos; trouxe-o ao redor, intrui-o, guardou-o, como a menina do seu olho.
Estas palavras são parte de uma famosa canção que descreve a história e o destino do povo Judeu. Rashi diz que Ele os envolveu com as nuvens de glória. E acrescenta que mesmo no monte Sinai eles foram envolvidos, porque de acordo com o Talmud, Deus segurou a montanha acima das suas cabeças, e assim eles foram envolvidos no evento do recebimento da Torah.
Ha uma passagem no Talmud que diz que o fenômeno das nuvens não acontecia somente relacionado ao aspecto físico do deserto, sua sequidão e da dureza do clima por causa do qual elas vieram para protegê-los. Ela se refere tambem a dureza de uma terra perdida de um mundo sem a presença de Deus e de Suas leis as quais Ele revelara no monte Sinai.
Quando a presença de Deus e a sua revelação entraram no mundo através dos principios e das leis da Torah, essa presença foi seguida pelas nuvens de glória por 40 anos para nos resguardar e tambem nos proteger da presença santa de Deus. *(Isso significa dizer que o povo não teria conseguido sobreviver no deserto, não porque o deserto era hostil, árido e inóspito, mas sim porque a PRESENÇA DE DEUS é de tal forma santa, que sem as nuvens isso seria impossivel)
A Palavra Yelal que pode significar terra perdida também vem da palavra hebraica Layla que significa noite e a palavra Tohu é caos. E assim diz que antes que a Torah viesse ao mundo, antes que Deus sua presença e Seus principios viessem ao mundo havia caos e escuridão. Isto se refere a uma outra passagem no Talmud no qual Deus diz se vocês não aceitarem a Torah então vou fazer retornar para o mundo o caos e o vazio mencionados no livro de Gênesis no qual diz que havia caos, vazio e escuridão sobre o abismo.* (Nesse contexto, viver na sukkah era estar fora da possibilidade desse caos, escuridão e face do abismo)
Qual é a mensagem?
Somos ensinados de maneira profunda que a presença fisica destas nuvens de glória representam a presença de Deus no mundo, e os principios que ele revelou, suas leis e regras pelas quais devemos guiar nossa vida. As nuvens proclamam que sem a presença de Deus, das suas leis e princípios da existencia humana somente existem o caos, o vazio e o abismo. Uma terra desabitada porque está vazia. Não existe nada lá. Existem trevas sobre o abismo. O que é o ser humano? Nada mais que um acumulado de moléculas que entram no mundo para sobreviver. O recem nascido vem chorando e necessita de cuidados, e por toda nossa vida lutamos para sobreviver. A existência do homem sem a presença de Deus e das suas leis é patética. É um mundo embora fisicamente grande, apenas um buraco perdido no espaço com escuridão sobre o abismo. Qual o sentido disto? Com a presença de Deus e suas leis o mundo em que vivemos se transforma num palacio de um rei. E nossas almas são mandadas para este mundo para fazer o bem, e o bem que fazemos tem um valor e um significado eterno que é intocável pela morte. Isto faz da vida do ser humano algo valioso, digno e significativo.
As nuvens de glória entram neste mundo dificil da patética natureza da existência humana para dizer, que quando a vida esta contida dentro das nuvens da glória, da presença de Deus, de sua leis e seus principios ela é de fato elevada. Este pode ser o significado profundo por trás do termo Ananei Hakavod, nuvens de glória porque Kavod siginifica honra. Eles ( os judeus) deram honras a Deus mas elas (as nuvens) deram honra, glória e dignidade para nós seres humanos. Por estar vivendo dentro destas nuvens com a Palavra de Deus e seus desejos e viver num mundo com sentido, dignidade e valores eternos.
A existência do homem neste mundo pode ser explicada e justificada pelo fato da presença de Deus e pela missão que ele nos deu para vivermos de acordo com a sua vontade
O ponto central de nossas vidas
Que é o sentido profundo das cabanas? A razão pela qual focamos no milagre das nuvens e não nos milagres das fontes de água e do Maná, é que a vida não se resume apenas em estar atrás, suprir ou prover necessidades fisicas. As nuvens representam a missão da vida, no seu sentido mais profundo. Então neste aspecto enquanto o Shavuot que é o festival do recebimento da Torah, nos leva a identificar os princípios e teorias do bem estar do homem; o Sukkot é viver estes principios. Fala acerca da jornada pela vida a qual frequentemente é feita sobre duras e áridas condições e geralmente num contexto de grande dificuldade e adversidade. É viver corporalmente aquilo que o Judaismo é quando ele vem para vida. Tudo aquilo que vivemos é feito dentro da Sukkah e tudo que diz respeito a nossa vida é elevado porque Sukkot é acerca da vida ela mesma. Isto diz respeito a restringir tudo em nossas vidas dentro do contexto da Sukkah. E esta é a razão pela qual o grande simbolismo desse festival é o fato de fazermos uma caminhada a volta da Bima. Durante a festa das cabanas quando tomamos as 4 espécies de lulav e etrog, e adamos a volta da Bima, que é o lugar central no meio da sinagoga onde o rolo da torah é segurado e nós oramos pela chuva e por todo o sustento que precisamos. Nós andamos a volta da Torah que é o centro da nossa vida.
No final do Sukkot celebramos Simchat Torah aonde concluimos a leitura da Torah e nos alegramos. Nos primeiros dias do Sukkot tomamos nossos lulav e etrog e andamos a volta da Torah. No último dia do Simchat Torah caminhamos a volta de um Bima vazio 7 vezes carregando a Torah porque aquele Bima vazio diz o sábio Rav Soloveitchik representa a presença de Deus. Está vazio para mostrar a ausência de uma forma fisica.
O simbolismo dos circulos e de andar a volta é porque o centro da nossa existência é Deus suas leis e seus principios. Isto é a essência do ser humano e da condição humana; como seres humanos o sentido da nossa vida, o sentido da nossa missão e o seu propósito vem quando estamos enraizados em Deus e nos seus princípios. Esta é a mensagem central do Sukkot . É por isso que o Sukkot dentro todas as festas é descrito como um tempo para gozo e regozijo.
*Memorial escrito pelo Rabino Chefe da cidade de Johannesburg-África do Sul, ao qual são creditados todo o contexto e pesquisa.
*Traduzido pela Pastora Nadia Karina da Silva
Adaptado para o contexto da língua portuguesa, com adições e breves comentários ao texto original feitas pelo Pastor Eliel Gomes da Silva